“Chora, deita tudo cá para fora, vais te sentir melhor”. Quem é que nunca ouviu um conselho parecido num momento em que estava mais triste?
Nas ultimas pesquisas sobre o assunto apurei que à duas duas abordagens a primeira estava propensa a distorções na memória dos participantes (eles podiam ser influenciados pela ideia difundida de que chorar é bom e acabariam isso poderia afetar sua lembrança), a segunda sofre com a falta de realismo, uma vez que as situações que são simuladas carecem de emoção.
Um método mais adequado seria pedir a voluntários que mantivessem um diário, por um período razoável, em que registrassem a cada noite/dia os seus episódios de choro e como se sentiram depois. Não seria tão intrusivo a ponto de interferir no comportamento dessas pessoas (coisa que pode acontecer quando estão a ser observadas a chorar num laboratório). E as chances de as memórias estarem distorcidas seriam menores, caso as voluntárias escrevessem sobre o choro no dia em que ele ocorresse.
Foi isso que a pesquisadora Lauren Bylsma, da Universidade da Flórida, fez. Com 97 alunas do sexo feminino completaram um diário por 40 a 73 dias no qual respondiam a perguntas sobre o seu humor diário. Se elas choraram no dia, tinham de descrever o motivo, quanto tempo durou o choro e qual a sua intensidade, se havia outras pessoas implicadas e como se sentiram depois. Ao todo, 1.004 episódios foram documentados e todas as voluntárias choraram pelo menos uma vez. A maioria das crises foi causada por conflitos com outras pessoas; perdas e fracassos pessoais foram o segundo e terceiro motivo mais frequentes.
E esse estudo descobriu que, ao contrário do que se costuma acreditar, chorar não faz com que as pessoas necessariamente se sintam melhor – na verdade, em dois terços dos casos isso não teve nenhum efeito positivo. 61% das voluntárias não sentiu nenhuma mudança de humor nos dois dias seguintes. 30% tiveram uma melhora e 9% sentiram-se pior.
E mais: para aquelas que se sentiram melhor, o que pesou foi a intensidade da crise: chorar mais intensamente é mais eficiente para melhorar o humor do que chorar pouco durante um longo período. Além disso, chorar na companhia de outra pessoa surtiu mais efeito do que fazer isso sozinho ou cercado de muita gente. Por isso, os autores do estudo acreditam que o choro em si não é o responsável pela melhora do humor, mas sim o fato de ele atrair o apoio de outras pessoas e chamar a atenção para problemas importantes.
Apesar de ter limitações (faltou ver como isso se aplica a homens, por exemplo, e o método de classificação do humor dos participantes era limitado), os pesquisadores enfatizaram que esse foi “o primeiro estudo prolongado da relação entre as lágrimas e o humor envolvendo informações contextuais detalhadas de vários episódios de choro”.
Mas o que temos, por enquanto, é isso: pelo menos para as mulheres, colocar tudo para fora numa crise de choro tem duas hipóteses em três de não ajudar em nada.
Na minha experiência, com cerca de 10 anos de atendimento clínico, percebi que quanto mais as pessoas choram, mas curto se torna o tempo do alivio imediato. Ou seja, chora agora, tem uma sensação de alivio que dura um tempo determinado, mas na próxima situação de tristeza este alivio tem um tempo menor de duração e esta pessoa se sentirá impelida a chorar novamente procurando o alivio que agora se faz necessário.
É como um vício, algo que dá uma sensação boa mas que com a repetição tende a oferecer menos sensação boa fazendo com que a pessoa procure mais e mais disto. Ao nível neurológico funciona mesmo como uma dependência.
Para nós psicoterapêutico uma crise de choro pode ser chamada também de uma descompensação ou desorganização. Como que a pessoa entrasse num desequilibro.
Portanto, o melhor que a pessoa que está triste e com necessidade de chorar tem de fazer, é procurar formas de superação e enfrentamento que a farão mais forte. Assim estes eventos que causam tristezas serão usados como fatores de fortalecimento e não de enfraquecimento.
O psicólogo é a pessoa que pode lhe ajudar neste processo.
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